O filósofo americano John Rawls (1921-2002) fez uma proposta interessante para que as leis sejam justas: que quem define as leis não saiba em qual lado estará quando forem aplicadas.
Em várias situações, isso tem sido aplicado informalmente. Por exemplo, ao dividir a terra herdada, um dos dois irmãos marca a divisão e o outro escolhe. Quem marca a divisão precisa ser o mais justo possível porque não sabe em qual lado ficará.
Nos direitos entre homens e mulheres isso é impossível. Os homens que escreveram essas leis têm certeza de que sempre serão homens.
Mas a causa primordial da injustiça não está na certeza de em qual grupo os legisladores estarão pelo resto da vida. A causa primordial da injustiça é a falta da sensibilidade pelos direitos e necessidades do outro grupo.
E sensibilidade é parcialmente natural (porque, se não houvesse sensibilidade na natureza, os pais e os grupos não cuidariam de suas crias). E a sensibilidade é também aprendida, desenvolvida conforme o meio cultural em que se vive. Do mesmo modo que se ensina sensibilidade, também ensinamos desrespeito.
O desrespeito dos homens às mulheres é causado principalmente pelo que foi ensinado ao longo da vida por meio de leis injustas contra as mulheres.
Precisamos tomar consciência disso e trazer para a prática a justiça.
Para sermos justos, é preciso o senso de justiça se tornar comportamento automático, no insconsciente. Para que isso se realize, é necessário treino: diariamente verificar se cada ação está sendo justa, corrigir o comportamento, padronizar comportamentos saudáveis e justos e assumir o compromisso com esses padrões. Com o tempo, isso se torna hábito.